O povo brasileiro vive um caso de amor com regimes autoritários

A eleição de Jair Bolsonaro como Presidente do Brasil não me surpreendeu nem um pouco. O Brasil nunca foi um país fácil. Nosso povo nunca manjou muito bem de política e sempre adorou se esconder por trás de uma boa figurinha autoritária, que resolvesse tudo para a gente... Sabe como é, esse negócio de pensar atrapalha a festa.

Já lá, no começo desse Brasil varonil, validamos uma invasão que matou os nossos antepassados nativos e escravizou nossos antepassados africanos porque achamos muito chique ser o quintal da elite militar e comercial, que era Portugal naquela época. Hoje em dia, ainda se discute se as coisas não estariam melhores se tivéssemos trocado de algoz, com os holandeses que tentaram entrar no céu apulso através da Bahia e de Pernambuco. Para que ser responsável pela própria história, não é?

Imediatamente depois, validamos a alta traição de Dom Pedro ao seu país porque achamos muito patriota o sacrifício dele, que abriu mão de um reino para ficar em um império que não só era maior em território do que aquele de que abriu mão, como tinha mais recursos naturais e comerciais a se explorar. Ainda hoje, olhos e roupas de baixo ficam úmidos ao mencionar esse episódio. Por quê? Ora, achávamos muito chique ter uma família real para babar.

A história segue em frente e, quando os militares formaram a revolução que nos deu a democracia em 1889, também caíram em nossas graças. Democracia capenga, molenga, vacilante e preguiçosa essa que eles nos deram, mas fizemos deles nossos heróis e validamos tudo o que fizessem. Em diversos momentos depois disso, inclusive, pedimos que eles nos salvassem novamente.

Literalmente, 48 anos depois disso, em 1937, validamos a ditadura do estado novo. Vargas nos salvaria da ameaça invisível que não deixava o cidadão de bem dormir à noite. Esse planinho levou a gente para a 2ª Guerra Mundial, ao lado dos aliados, pasmem. Mas é claro que o governo passou um bom tempo flertando com Hitler. É que ficamos indecisos sobre qual autoritarismo devíamos amar, sabe como é.

Após o fim do governo Vargas, em 1945, tivemos 19 longos anos de democracia antes de implorar para os militares nos salvarem. O que eles fizeram? Deram um golpe em 1964, que guiou o Brasil por 21 anos de tortura, assassinatos, corrupção até o ano de 1985, quando eles gentilmente nos devolveram a democracia.

Conseguimos essa danada dessa democracia de volta para, 33 anos depois, eleger um militar que não só apoia esse regime, como vocifera que o mesmo deveria ter matado mais gente.

É, acho que dessa vez vai ser diferente, hein? Estamos nos preocupando a toa.

Por Antonio Virginio Neto, estudante do 8º período de Jornalismo.