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Menos livrarias, menos saber

da vinciPor prof. José Urbano

Há poucos dias tivemos uma notícia que foi destaque na maioria dos veículos de imprensa nacional: o fechamento de diversas livrarias em várias cidades do Brasil. Particularmente, isso me preocupa bastante, e por vários motivos. Livrarias e bibliotecas são santuários que abrigam o conhecimento humano, nas mais diversas áreas, e de diversas formas, seja digital ou física.

 

Buscando na memória, me lembro de livros como “20 mil léguas submarinas”, que lí na infância, ainda “os miseráveis”, clássico de Victor Hugo, e uma infinidade de autores que fazem parte do meu singelo currículo literário. Tenho aproximadamente 52 exemplares com dedicatória e autógrafo dos próprios escritores. A leitura é um hábito que nos potencializa em todas as áreas do conhecimento, seja a literatura pedagógica, informativa ou de qualquer outra natureza. 

Quando sabemos que uma livraria deixou de funcionar, instantaneamente vem aquela sensação de que ficamos órfãos e diminuídos intelectualmente.
Muito mais do que empreendimentos comerciais, livrarias agrupam em seus espaços homens e mulheres, jovens e adultos, pessoas conscientes de suas limitações intelectuais e dispostas a entrar num processo de autoconstrução social, pelas vias sagradas da leitura e compreensão textual.

Nosso país tem centenas de editoras, e um público leitor estimado em 55 milhões de pessoas, o que parece muito mas não é, afinal de contas fica em torno de 30% do povo brasileiro. Em termos comparativos, na Europa esse índice passa dos 80% de cidadãos.

O caminho entre o escritor e o consumidor é longo, passando por questões editoriais e tributos inexplicados para elaboração de livros. Em crise econômica, tem muito menos recursos nos orçamentos para ser investido em conhecimento.

Aqui em Caruaru, a terceira edição da Fenagreste – Feira de Livros do agreste, nos proporcionou o encurtamento desse caminho que insistem em dificultar, impondo uma sinuosa estrada entre autores e leitores, quase que um calvário intelectual.

Publicações independentes? Aí é que complica mesmo, já entrei nessa seara e ví as dificuldades criadas pelo desinteresse e apetite financeiro selvagem em cima de produções regionais.

- Professor, o livro virou digital, me avisou um aluno, dia desses.

É verdade, e devido a libertinagem das plataformas digitais, lá se vão direitos autorais que sustentava o mercado e favorecia as novas produções. O PDF que se expande e divulga, é o mesmo que desmonta as redes de editoras, distribuidoras e livrarias.

Quando o país fecha livrarias e abre bares, está se embriagando com o produto impróprio. E sentenciando a sociedade ao marasmo do retrocesso político, educacional, cultural e humano, em todas as suas nefastas condições.

O processo é irreversível, infelizmente. Mais do que apreciadores, sejamos memoralistas das nossas bibliotecas, brevemente os únicos espaços guardiões sagrados do saber humano.