No meu coração só cabe amor

Há pouco participei da cerimônia da Formatura de ABC do meu filho caçula, Lucas. Cada aluno, após chamado solenemente pela Diretora, seguia por um longo corredor, de braços dados com seu acompanhante, sob os olhares atentos de toda a platéia do Teatro. Como sei que quando estou nervosa, travo ainda mais o meu andar, sugeri ao meu filhote que entrasse com o pai, para quem a tarefa seria muito menos complexa.

Ele respondeu com os olhos. Escolheu-me. Afinal, é clássica a tradição de que meninos são "apresentados" pelas mães e o meu pequeno não desejou fugir à regra.

Então, lá fui eu. Mãos dadas com um lindo pequeno moço de sete anos de idade, apoiando-me com força e sutileza em seus braços miúdos, pretendendo fazer crer que eu era o referencial de proteção.

Ao caminhar ali, lembrei do quanto me incomodei com situações semelhantes ao longo da vida, exatamente por que tinham o condão de mostrar, com grifos reluzentes, as minhas deficiências, limitações e diferenças.

Ocorre que dessa vez, perdi-me em sorrisos que nos agraciavam, em amigos especiais que iam enfileirados no exercício do mesmo papel e na felicidade do meu Lucas, confiante rumo aos novos desafios, certo de que estarei ao seu lado, por amor, haja o que houver, custe o que custar, por que depois dele e dos seus irmãos deixei de ser singular para ser plural, escondi o medo e encontrei a coragem para ser o elo entre o sonho e a realidade.

Hoje, eu vesti uma saia cor de rosa, uma camiseta com a inscrição Amor que dura para sempre e tênis. Olhei para a imagem refletida no espelho e sorri com leveza na alma. Recordei a lição trazida com os anos... Cinderella pode calçar tênis (ou até andar descalça), por que seu encanto não está no sapato brilhante, mas no brilho de dentro, aquele que habita o coração e se revela pelos olhos.

Vi o vídeo da nossa entrada. Como sempre, estava ali o meu jeito peculiar de caminhar com meu braço esquerdo atrofiado a denunciar minha ansiedade. Acolhi-me com afeto e resiliência. Agradeci por tudo ser exatamente como é, por eu existir nesse corpo perfeito para mim, capaz de me proporcionar a vivência de momentos preciosos, decorados com felicidade e cheirinho de Lavanda Jonshon nos cabelinhos pretos e macios do meu Doutor do ABC, extasiado pelo mundo que se abriu com a leitura, do mesmo modo que estou com a certeza de que meu ponto de vista muda minha realidade.

Não preciso ser perfeita, porque isso nem existe. Sou um ser em construção e expansão, em obras internas e sem prazo de entrega.
Está tudo certo.
Só celebro e agradeço.

Por Georgia Florencio - Gestora Emocional e Orientadora para Exames da OAB e Concursos