De fadiga a depressão, conheça as principais sequelas da Covid-19
10 de agosto de 2022
Pacientes infectados com Covid-19 podem continuar a sentir fadiga extrema e dor de cabeça por mais de quatro meses após o quadro infeccioso. Além disso, dores musculares, tosse, calafrios, congestão nasal e alterações no olfato e paladar são outros sintomas que podem permanecer por um longo tempo no período chamado de “pós-covid”.
A constatação é de um estudo promovido por pesquisadores da Corte Prospectiva Neurológica e Molecular da Covid-19 (Conga), instalada dentro do Colégio Médico da Georgia, na Universidade Augusta, e publicado na revista ScienceDirect, na segunda-feira (08).
A equipe acompanhou 200 pessoas por 125 dias após o diagnóstico positivo da covid-19 para analisar a gravidade e o período em que os problemas promovidos pela doença permanecem no corpo do infectado após a infecção.
De acordo com a autora principal do estudo, a médica Elizabeth Rutkowski, os resultados mostraram que “há uma longa síndrome de Covid-19” e que não é algo raro, “muitas pessoas são afetadas”.
Os números do estudo atestam a fala da especialista: dos 200 participantes, 80% relataram estar com sintomas pós-covid. Destes, 68,5% afirmaram sentir fadiga extrema e 66,5% relataram que dor de cabeça é o principal problema enfrentado por eles — sendo estes dois os sintomas mais comuns da chamada "covid longa".
Os pesquisadores explicam que a fadiga pode permanecer porque os níveis de inflamação no corpo — que é a resposta natural do organismo a uma infecção — permanecem elevados em alguns indivíduos mesmo após meses. A tese foi corroborada por meio de amostras de sangue coletadas no início do estudo e depois nos meses seguintes — os marcadores inflamatórios estavam no mesmo nível.
A descoberta mostra que os anticorpos do vírus podem diminuir, mas a inflamação do organismo permanece e produz os sintomas, como a fadiga. A continuidade da inflamação é pior em pacientes com esclerose múltipla e artrite reumatoide.
Em todos os casos, os pesquisadores afirmam que a sensação de cansaço não é apenas uma falta de energia ocasional. A fadiga pós-covid relatada pelos pacientes é de um constante estado de incapacidade de realizar esforços pequenos no dia a dia.
Alterações no olfato (54,5%) e no paladar (54%) também foram apontados por mais da metade dos analisados. Uma constatação séria foi registrada a partir dos dados fornecidos pelos participantes: 47% afirmaram sofrer comprometimento cognitivo leve, com 30% deles tendo o vocabulário prejudicado e 32% memória de trabalho afetada.
Para o estudo, os pesquisadores levaram em consideração não apenas o auto relato dos participantes, mas também o submeteram a testes neurológicos que analisaram o estado mental, os reflexos e a função motora dos analisados. Além disso, testes para identificar odores e capacidade de distinguir os gostos doce, azedo, amargo, salgado e sem sabor também foram feitos. Por fim, exames sanguíneos analisaram os indicadores de inflamação.
Os dados mostram que as consequências da Covid são devastadoras mesmo em pessoas ativas e saudáveis antes da doença. O estudo alerta que os prejuízos da doença podem ser maiores se o paciente for infectado por diversas vezes.
Entre os 200 entrevistados, 25% relataram rotinas que, segundo os pesquisadores, se encaixam com o quadro clínico de depressão. Outros 18% demonstraram desenvolver ansiedade, junto a uma propensão para depressão e até mesmo anemia.
O relatório do estudo aponta que os pacientes com depressão e ansiedade também demonstraram maior número de sintomas crônicos. Para os especialistas, os quadros de piora na saúde emocional foram agravados pelo isolamento imposto como medida para reduzir o número de infectados da doença.
Outro apontamento da pesquisa revela uma maior propensão para covid longa em pessoas negras: 75% dos participantes negros registraram comprometimento cognitivo leve, ante a 23,4% dos analisados brancos.
Correio Braziliense.