Milícia, grilagem e lei: por que Marielle foi assassinada, segundo a PF
25/03/2024
A vereadora Marielle Franco (PSOL) foi morta em março de 2018 por atrapalhar os interesses dos irmãos Brazão, segundo a Polícia Federal. Relatório de investigações aponta como sendo essa a motivação do crime, que também tirou a vida do motorista Anderson Gomes.
Segundo Ronnie Lessa, autor dos disparos contra Marielle, o planejamento para matar a parlamentar começou em setembro de 2017 porque ela representava "um obstáculo aos interesses dos irmãos". Chiquinho era vereador no Rio, assim como Marielle, enquanto Domingos já atuava como conselheiro do Tribunal de Contas do estado.
Lessa relatou, na delação premiada, que as reclamações de Domingos Brazão sobre Marielle teriam aumentado desde as primeiras conversas. Os irmãos constantemente se queixavam, segundo a PF, da relação que a vereadora mantinha com lideranças comunitárias contra loteamentos de milícias no Rio, em áreas em que os dois tinham influência.
As investigações apontam que a tensão entre políticos do PSOL, incluindo Marielle, e os irmãos Brazão piorou no segundo semestre de 2017, quando ela se posicionou contra o PLC (Projeto de Lei Complementar) 174/2016, apresentado por Chiquinho. A proposta, que flexibilizava as regras de ocupação do solo, acabou aprovada na Câmara no dia da morte de Marielle, mas o Tribunal de Justiça do RJ considerou mais tarde a lei inconstitucional.
A animosidade entre os Brazão e Marielle era abastecida pelas informações colhidas por um infiltrado da dupla no PSOL, segundo a PF. Laerte Silva de Lima repassava informações a Edmilson Macalé e Ronnie Lessa, contratados para matar a vereadora.
Ronnie Lessa também afirmou aos policiais que os irmãos Brazão prometeram que ele ganharia lotes em um empreendimento imobiliário na capital fluminense como pagamento pelo assassinato. "O próprio pagamento aos executores seria por meio de lotes oriundos de grilagem e permissão para exploração da atividade de milícia no local", diz trecho do relatório da PF.