Anistia Internacional avalia como 'grave' presença de Bolsonaro em ato a favor de intervenção militar
A diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, avaliou como "grave" a participação do presidente Jair Bolsonaro em uma manifestação, neste domingo (19), que pedia a intervenção militar no país, o que contraria a Constituição Federal.
No ato, realizado em Brasília e na data em que é celebrado o Dia do Exército, Bolsonaro fez um discurso em frente ao Quartel-General do Exército. O presidente disse que nem ele nem seus apoiadores querem negociar nada e voltou a criticar o que chamou de "velha política".
Com faixas a favor de intervenção militar, manifestantes gritavam palavras de ordem pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), além da volta do "AI-5".
O Ato Institucional número 5 (AI-5) vigorou durante dez anos (de 1968 a 1978), no período da ditadura militar, e foi usado para punir opositores ao regime e cassar parlamentares.
"A Anistia Internacional repudia qualquer manifestação pública que tenha como objetivo pedir a volta do regime militar, pedir a volta do AI-5, pedir a volta de um regime político que trouxe para o Brasil tanto sofrimento, trouxe tortura, trouxe desaparecimentos. [...] É grave que o presidente da República se junte a esse tipo de manifestação", disse a diretora-executiva do órgão.
Ela ressaltou que o presidente da República é "o guardião da Constituição e tem o dever de respeitar a Constituição Federal, de fazer cumprir suas obrigações em relação aos direitos humanos".
Dezenas de simpatizantes se aglomeraram para ouvir o discurso do presidente, indo na contramão das orientações de isolamento social da Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar a propagação do coronavírus.
Na avaliação da diretora-executiva da Anistia Internacional, é "muito grave que o presidente da República se desvie da sua função, desrespeite as recomendações da OMS e clame por um regime que só traz mais sofrimento".
Ela ponderou que o país e o mundo passam por "uma emergência de saúde pública, extremamente preocupante, onde vidas estão sendo perdidas, onde famílias estão sofrendo, onde o sistema de saúde está sendo desafiado a responder a essa situação com falta de recurso, com dificuldade de garantir tudo que a população precisa".
Segundo ela, "é hora de toda a nação" se juntar numa resposta a essa pandemia e não é hora "de violar a Constituição. "Não é hora de desrespeitar os princípios de solidariedade da sociedade brasileira. É hora de agir em favor da vida, em favor da saúde, em favor dos direitos humanos", afirmou.
(via G1)